segunda-feira, 5 de setembro de 2011


Fotos de José Frade

direcção Jorge Andrade dramaturgia Jorge Andrade e José Capela texto Miguel Rocha com Anabela Almeida e Bruno Huca vídeo Rui Ribeiro com a colaboração de Ricardo Sequeira e Sérgio Aragão luz José Álvaro Correia música Rui Lima e Sérgio Martins direcção de produção Magda Bull co-produção Maria Matos Teatro Municipal, O Espaço do Tempo, Citemor apoios Comuna Teatro de Pesquisa, Teatro da Garagem agradecimentos Armanda de Freitas, José Duarte, Maria H. Capela, Paulo Monteiro, Samuel Guimarães, Teresa Ferreira, Tiago Frois


Vídeo de Festival Circular

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


sinopse

Segundo espectáculo de um ciclo sobre identidade, chinoiserie reflecte sobre as identidades culturais instantâneas que são postas ao serviço do consumo rápido e alimentam, por exemplo, a indústria do turismo (os itinerários abreviados e as referências facilmente apreendidas). Confundindo contos tradicionais de vários países e adoptando como protagonistas objectos oriundos de lojas de chineses, pretende re-localizar-se a ideia de “autenticidade”. O que é mais autêntico: uma boneca minhota fabricada na China ou uma rapariga minhota a dançar folclore no foyer de um hotel?


pressupostos
O turismo, uma das mais volumosas e lucrativas indústrias contemporâneas, tende a tipificar a identidade dos destinos que oferece. Vocacionado para o consumo rápido, o turismo reduz a identidade dos locais visitados a itinerários rápidos e a referências facilmente apreendidas: monumentos ou conjuntos construídos que se transformaram em ícones (cuja função, muitas vezes, é já só serem observados por turistas), manifestações antropológicas caricaturais (como, por exemplo, espectáculos de folclore) e produtos que podem ser comprados em lojas de souvenirs. Se a identidade de um local reside na especificidade das práticas sociais que nele têm lugar, então a identidade de muitos dos locais frequentados por turistas reside no próprio turismo, e não em seja o que for que tenha acontecido no passado.


Neste contexto, a identidade enquanto construção abstracta tende a ser substituída por aquilo que é concreto. Princípios éticos ou morais que regem as relações entre os indivíduos, o exercício da cidadania, práticas culturais contemporâneas, hábitos alimentares e de consumo ou, de modo genérico, o quotidiano de quem habita um determinado território não são aspectos tão satisfatoriamente concretos (ou tão facilmente condensados em pacotes de viagem, e registados pelos turistas em fotografias e vídeos) como os edifícios e os objectos. Por outro lado, apenas o que é concreto alimenta o mercado de souvenirs. Postais, objectos impressos com fotografias, miniaturas de edifícios, reproduções de obras de arte em tamanhos diversos são produtos industriais que, como quaisquer outros, podem ter origem numa qualquer parte do mundo que ofereça condições economicamente vantajosas. Uma Torre Eiffel fabricada em Taiwan ou uma Mona Lisa chinesa são objectos com uma forte identidade – não a identidade dos regionalismos mas a identidade das trocas comerciais à escala global. Uma boneca minhota comprada numa “loja de chineses” é mais autêntica que uma rapariga minhota que dance folclore no foyer de um hotel. A primeira é representativa do seu tempo. A segunda tenta alhear-se dele: adopta uma prática cuja razão de ser radica num contexto já extinto.


concretização do projecto
Chinoiserie é um espectáculo que assenta na manipulação de objectos comprados em “lojas de chineses” em Portugal, com vista à construção de narrativas ou de paisagens de objectos.


Pretende-se que as narrativas, as referências a locais e os objectos comecem por ser facilmente reconhecíveis como parte da identidade de alguns países, regiões ou cidades (designadamente de Portugal) e que, ao mesmo tempo, entrem em conflito entre si por pertencerem a contextos díspares. Assim, através da justaposição contraditória de “lugares comuns” do que se considera ser a identidade local, julga-se possível resgatar um outro tipo de autenticidade: a da manipulação livre das referências e, designadamente, a da sua des-contextualização ou re-contextualização. Prevê-se que, ao longo do espectáculo, os variados “lugares comuns” da identidade sejam progressivamente confundidos até que daí resultem universos ficcionais híbridos.


No que respeita especificamente aos objectos de “lojas de chineses” utilizados, eles podem contribuir, quer para a contemporaneização dos componentes tradicionais convocados para a cena, quer para evidenciar que a produção em série e o consumo massificado são fenómenos que retratam de modo
autêntico a contemporaneidade (independentemente das dúvidas éticas que a sua produção possa suscitar).